8º Ato ( Post ): Alien 3, Pag. IV                                                                                                                                                  
A     L     I     E     N     3
.
A S  D I F E R E N T E S  F A C E S  D O  'A N T I C R I S T O'...


O (s)  Facehugger (s)





 Sim: os, no plural!

 A um observador mais atento, ficaria claro que haviam duas criaturas - semelhantes, porém com diferenças - em cena: a primeira, surge pouco após o take sobre o ovo no Sulaco ( que, não só é impossível divisar em que estrutura está, mas também é impossível dizer-se como foi parar ali ), sendo, aparentemente maior, mais lento, e de cor acinzentada...




 ... enquanto a segunda, vislumbrada entre fios e cabos dos painéis do veículo de fuga de Ripley ( logo em seguida ao take do cão )...





 ... aparenta ser um 'modelo' mais tradicional - usual à franquia...!
 A razão dessa ( dentre outras ) dissonância é, precisamente, o caos instaurado na produção ( e pós-produção ) de Alien 3... Na verdade, Woodruff e Gills projetaram um 'Facehugger Real' - que seria o portador do embrião da Alien Queen - sendo maior, negro e de aspecto mais 'titânico' que a criatura convencional:




 Além de, originalmente, 'incubar' Ripley; essa gigantesca e bizarra versão do Facehugger original, seria responsável pelo ataque ( e inoculação ) do Ox Alien no boi, sendo - na 'versão do Diretor' - encontrada morta por um interno...




 ... bem perto do bicho.
 Com o choque entre ambas as versões, a bela criatura foi eximida da 'versão Teatral', e seu vislumbre único foi associado à vista dum Facehugger convencional.



Ponto de Ruptura

* O artista plástico suíco H. R. Giger. *


 " Tenho a forte impressão que a minha contribuição para os efeitos especiais do filme nomeado ( referindo-se a Alien 3, nomeado ao Oscar de 'Melhores Efeitos Especiais Visuais' ) foi intencionalmente suprimida. "
H. R. Giger, ao presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, Karl Malden



 Deste ponto ( e doravante ) devo salientar que, a despeito de meu empenho em rastrar fatos e História, hão dissonâncias ( significativas! ) entre as versões dos envolvidos...

 Concretamente, H. R. Giger foi abordado em julho de 1990 por David Fincher e o produtor, ex-assistente de diretor e fotógrafo americano, Tim Zinnerman, afim de repensar e redesenhar sua criação para Alien 3. Fincher talvez vislumbrasse, por meio desse contato, além de engrandecer sua produção ( tida, há época para muitos como 'uma bomba'! ), reafirmar o elo de ligação entre o mestre suíço e a cinessérie Alien; rompido ( conforme já apresentado no 5º Ato, Parte II: The Alien Queen ) em Aliens. Cabe, contudo, rememorar-se que o mestre Stan Winston - responsável, ao lado do diretor James Cameron, pela criação do conceito do Warrior Alien de Aliens e, por extensão, pivô da ruptura com o 'Conceito Giger' - foi procurado para a criação de Alien 3 mas, por não estar disponível, indicou a Amalgamated Dynamics, de Woodruff e Gills. 
 Segundo o posicionamento de Fincher, Giger remodelou seus conceitos nalguns protótipos como o 'Bambi'...





 ... como ficou conhecida a 'versão juvenil' do Dog/Ox Alien, e um primeiro esboço duma 'versão mais bestial', mais primitiva, da criatura; mais próxima de um leão...





 ... com a musculatura axial e nos membros mais desenvolvida e saliente... Giger assim definiu-o: 'Eu tinha idéias especiais afim de torná-lo mais interessante e eu projetei uma criatura nova, que era muito mais elegante e bestial, em comparação com meu original era um Alien de quatro patas, mais como um felino letal ( ... )'.
 Giger foi, desenho após desenho, lapidando e realinhando seus esboços ( os quais ele desenhava e dimensionava afim de poder transmiti-los via fax ) afim de corroborarem mais eficientemente suas idéias - de um felino, esguio e longilíneo...




 ... muito lépido, como um jaguar ou um puma, com uma 'pele simbiótica' ( desenvolvida a partir de outras criaturas ), e com uma cabeça com sulcos...




 ... que funcionaria como uma espécie de 'Caixa de Ressonância', além de uma 'sub-mandíbula' na forma do gume duma espada que, após perfurar a vítima, abriria-se com 'um anzol' ( ou guarda-chuva ), esviscerando-lhe numa morte horrível - e as de Fincher, que queria ( em contrapartida à capacidade letal da criatura ) certa sensualidade... certa beleza harmônica em seus movimentos e estética...! Neste último, Giger concebeu-a com lábios grossos e femininos...




 ... elemento evocado no protótipo final, da Amalgamated Dynamics...




 Segundo as palavras do mestre suíço: 'É possível fazer-se uma dança do acasalamento apenas nessa região'; referindo-se aos lábios e boca.
 Num certo ponto, o contato entre Giger e a produção de Alien 3 foi suspenso. Segundo a faixa bônus de Alien 3, de 2005, Woodruff, Gills e o próprio Giger ( ainda que de maneira reservada ) parecem concordar que a razão para tal fôra a enorme pressão que a produção sofria pela Fox, afim de concluírem-se as filmagens com o máximo de celeridade e brevidade possíveis...! Entretanto, ainda que a dupla de criadores da A.D. não conseguisse, ou pudesse ( ou mesmo quisesse... ) corresponder-se com Giger, ele prosseguiu remetendo-lhes faxes e mais faxes com modelos seus, com inovações e/ou inserções e /ou modificações na criatura.
 O início do sismo, entre ele e a produção de Alien 3, deu-se - de fato - quando Giger soube que fôra referendado, nos créditos do filme, apenas pela concepção e desenho da criatura original ( ou seja, pelo Alien de 1979 ), e não pelo Dog Alien - cujas criação e desenho, conforme vimos, foram proposições suas! - o qual, foi apresentado como produto da A.D. Não obstante - e, para potencializar-lhe ainda mais a irritação - Woodruff e Gills concederam um conjunto de entrevistas 'behind-the-scenes' ( 'por trás das câmeras', em português ) no qual pareciam minimizar a ( enorme ) contribuição do mestre suiço na criação, forma e desenvolvimento do Dog Alien. Segundo a mesma faixa bônus, essa nunca fôra a intenção da dupla de criadores; muito pelo contrário (!), Gills e Woodruff desejavam, com o Dog Alien, honrar o mestre Giger e a seu inegável gênio criativo...! Neste ponto, o fato dissolve-se em especulações: segundo uma corrente, Gills e Woodruff desejaram incorporar a criatura afim de promover e beneficiar sua recém-fundada empresa, a Amalgamated Dynamics; segundo outros, suas entrevistas foram editadas e reeditadas pela Fox afim de minimizarem a participação de Giger no projeto, com o objetivo de não reembolsarem-no os direitos de criação ( Nota 13: de fato, Giger só recebeu seus honorários pela criação do Dog Alien da Fox, ante sua recusa em conceder uma entrevista que seria usada no documentário 'behind-the-scenes' de Alien 3 ); outros, por fim, tem o incidente como um infortunado mau-entendido, oriundo do processo de edição das entrevistas originais de Woodruff e Gills...
 No rastro da já tensa situação, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas esqueceu-se da contribuição de Giger para Alien 3, elencando ao Oscar de 'Melhores Efeitos Especiais Visuais' ( Nota 14: lembrando que o filme foi derrotado no quesito por 'A Morte lhe Cai Bem', de Robert Zemeckis ) apenas a A.D., de Gills e Woodruff...!
 Não obstante - e, no sentido de corrigir o erro - o diretor Ridley Scott ( de Alien ) indicou Giger ( juntamente com a dupla de criadores Carlo Rambaldi e Richard Johnson ) ao prêmio em Alien 3, uma vez que foram referendados nos créditos do filme pela criatura original.
 Entretanto, a Fox 'barrou' a indicação, salientando que 'os estúdios estão impedidos de apresentar os indicados na categoria de efeitos diretamente à Academia.' Chateado, Giger enviou um fax ao então presidente da Academia, Karl Malden, o qual encerrou com o comentário que 'abre' esta seção, subscrito por um grande pentagrama negro.

 Futuramente, Giger revelaria que o Dog Alien era 'melhor que o do segundo filme', o Warrior Alien, concebido pela dupla Winston/Cameron...



Síntese de ltiplas Determinações



 Nesse sentido, sendo resultante de um ( conforme visto ) tão caótico processo criativo - de construções e destruições - era natural ao Dog Alien, além de não parecer-se, também não comportar-se como qualquer de seus predecessores...

 Do ponto de vista eminentemente estético, uma das maiores contribuições do mestre Giger à anatomia e 'biomecânica' da criatura, foi a supressão da 'barbatana' dorsal...





 ... existente no modelo original, de 1979, e preservada no Warrior Alien, de Aliens ( 1986 ). A razão dessa característica particular é, na verdade, menos uma razão puramente estética e mais uma razão funcional, explicou Giger: ela serve como suporte ao crânio alongado, nas restritas condições em que o usuário do traje ( que, originalmente, foi o estudante nigeriano Bolaji Bandejo ) tivesse de olhar para cima...! Neste ato, ao erguer o queixo e a 'face' do Alien, o topo do crânio - localizado na outra extremidade da cabeça projetada - jogaria todo o peso da cabeça para as costas, como uma gangorra... Assim sendo, a função da 'barbatana' seria dar suporte ao movimento de erguer e abaixar a cabeça do traje.
 Segundo esse princípio, uma vez que o Dog Alien ( TCC Runner, ou 'Corredor' em português ) fosse quadrúpede, seu crânio alongado já alinharia-se naturalmente, aos ombros e curvatura das costas, sendo o item totalmente dispensável:




 De volta ao Set de Alien 3, por sugestão da própria atriz Sigourney Weaver, foi o próprio Woodruff, da A.D., o eleito para 'calçar os sapatos' do Dog Alien:





 A atriz defendeu o argumento que o desempenho do técnico e criador aproximar-se-ia mais ao de um ator - conferindo mais credibilidade a criatura ao mover-se pelo Set - que ao de um dublê, ou seja, mais que 'um cara num traje'. Sendo assim, Woodruff vestiu o traje do Dog Alien...




 ... com sua cabeça 'embutida' no pescoço da criatura; uma vez que a cabeça do Dog Alien tinha seu espaço interno tomado pelos dispositivos, mecânicos e robóticos, que faziam-na funcionar, movendo lábios, boca, mandíbulas e 'sub-mandíbulas':




 Eventualmente - para close-ups e ou 'tomadas fechadas' - Woodruff cedia lugar a uma prótese inteiramente mecânica mais complexa, com bem mais partes móveis e articuladas, do crânio e torso da criatura:





 Por fim, sempre que o devir das sequências requeresse um movimento mais lépido ou puncional do Dog Alien - como 'um bote' ou uma corrida - a equipe da A.D. valia-se dum modelo em escala...




 ... controlado e manipulado por um 'fantocheiro' sobre bluescreen, e depois inserido - por meio de 'trucagem' de efeito - na sequência...




 ... afim de conceder-lhe o impacto e a cinética necessárias.
 A A.D. também introduziu - na Mitologia da cinessérie Alien - o conceito da Queen Cheastburster...





 ... ( TCC Alien Queen Cheastburster ) que, convém lembrar, ficou fora da versão de Fincher ( exceto por um vislumbre desfocado no tomógrafo do 'Módulo de Fuga' de Ripley ) sendo resgatada na 'versão Teatral' de Alien 3. O conceito foi mantido ( com sutis modificações ) em Alien Ressurrection...




 ... servindo-lhe de elo de ligação com Alien 3.
 O aspecto conceitual da criatura é uma mui equilibrada síntese do Cheastburster original, surgido em Alien ( 1979 ), e a Alien Queen ( com dois pares de braços e crânio em forma de de coroa ), surgida em Aliens ( 1986 ):






 No que concerne ao comportamento do Dog Alien, é sabido que, a despeito da ferocidade ímpar da criatura, seu impulso nato - de Alien a Aliens - é o da captura de espécimes para a incubação, o que rendeu-lhe a célebre 'Sequência do Casulo'...


* 'The Cocoon Sequence' ( 'A Sequência do Casulo', em português )  -  Alien 1979; 20th Century Fox. *
CONTÉM CENAS FORTES!

 ... que, apesar de eximida da 'versão Teatral' de Alien, foi restaurada por Ridley Scott na 'versão do Diretor', tendo sido remodelada ( sob o argumento da introdução de Alien Queen ) e ampliada em Aliens:





 O Dog Alien contudo, ataca e mata ostensivamente a todos com os quais confronta-se...!!
 Na verdade, o roteiro de Alien 3 previa ao Dog Alien um comportamento idêntico ao de seus predecessores: em um dos esboços de Alien 3, Dillon ( papel de Charles S. Dutton ) e Morse ( Danny Webb ) encontrariam - nos tão labirínticos quanto intestinais 'mundos' do complexo de detenção - uma câmara nonde a criatura confeccionara um 'ninho' para a futura rainha, além de hospedeiros - dentre os quais o Superintendente Andrews ( Brian Glover ), semi-consciente - para sua futura prole de Facehuggers. A sequência fôra concebida para, além de celebrar o Alien original, conectar Alien 3 à Mitologia de Aliens.
 Entretanto - no curso da 'Maldição de Alien 3' - a sequência foi excluída antes mesmo de ser filmada e, com ao menos, dois 'casulos' já parcialmente confeccionados...


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