8º Ato ( Post ): Alien 3, Pag. III                                                                                                                                                  
A     L     I     E     N     3
o Sismo...


* O diretor Vincent Ward ( à esquerda ) e o produtor John Maynard. *



 " Entregaram-me uma lista de modificações, que era muito agressiva e autoritária. Tentei argumentar mas não tive sucesso. Disseram-me: faça-o ou será demitido. "
do diretor Vincent Ward, sobre sua reunião com os executivos da Fox



 A despeito do início - e aceleramento - dos trabalhos de criação e construção dos cenários do planetóide de madeira de Ward...






 ... o conceito do escritor e diretor começou - surpreendentemente, pouco tempo depois de sua global aceitação - a 'dar sinais' de inflexão...

 Segundo ele, pouco tempo depois do roteiro aceito, os produtores de Alien, Giler e Hill, reuniram-se com Ward afim de propor 'mudanças' no roteiro. Apesar de Ward não considerá-las tão viscerais ( sugeriam, por exemplo, a mudança de monges num mosteiro para prisioneiros numa prisão e, do fabrico de vidro para uma fundição ) isso desapontou-o, por descaracterizarem seu conceito original. A mais desalentadora delas foi - sem dúvida, para ele - a sublimação do próprio planetóide de madeira por ele proposto ( Nota 9: Ward concebera-o com a largura de 1.6 Kms...





 ... ou 1 milha, de extensão ) em favor dum conceito mais prosaico.
 Mesmo que Ward ainda vislumbrasse 'denominadores comuns', ele percebeu que não havia muito consenso entre os produtores ( Ward não foi muito explícito sobre ) do quê mudar...
 Logo em seguida, Ward foi chamado à Fox para uma reunião com seus Ceos; nonde ficaria-lhe claro os limites de sua criação: depois de fazê-lo esperar 'como uma colegial' ( segundo suas palavras ), a diretoria da Fox expôs-lhe uma lista de modificações que 'desmontaria' seu original numa visão bem menor que 'prosaica' - talvez até inferior à vista no filme...
 A direção da Fox foi categórica com Ward e, ante uma ruptura tão nítida com seu original, ele 'pulou fora' do projeto!

 Alien 3 estava - novamente - órfão...


A     L     I     E     N     3
por Walter Hill e David Giler





 " Houve muitas versões, mas nenhuma delas muito bem sucedida. "
do produtor David Giler


 Com Alien 3 novamente à deriva, coube aos produtores Walter Hill e David Giler intervirem no projeto...

 Hill e Giler começaram então a ( re ) confeccionar o original, valendo-se de subparcelas dos roteiros anteriores ( como, por exemplo, o conceito do 'Planeta Prisão', de Twohy ) inseridas e alinhadas no roteiro de Ward, já devidamente adapatado e 'enxuto' ( de acordo com as reinvindicações da Fox ). Não obstante, havia uma cláusula no contrato de Sigourney Weaver que especificava que - afora 'Jim' Cameron - eles seriam os únicos capazes de escreverem seu papel ( de Ripley ) de forma eficiente.
 Alien 3 - que já estava atrasado - contabilizou então algo em torno de três meses de paralisação...




 Nesse meio tempo, as várias equipes que trabalhavam no Set britânico prosseguiram; criando e recriando conceitos e protótipos os quais nem sabiam se ou como seriam utilizados no filme...
 Paralelamente, o chefe de estúdio da Fox, Roger Birbaum, indicaria aos produtores do filme um 'cara novo' para a direção de Alien 3... e esse cara, sobre o qual pesaram as mais duras e severas críticas da época sobre Alien 3 ( que levou grande parcela da culpa do filme ter sido um 'produto menor' de toda a cinessérie! ) foi, na verdade, o cara que salvou o filme...!!

 Um cara chamado David 'Seven, O Clube da Luta, O Quarto do Pânico, Zodíaco, O Curioso Caso de Benjamin Button, A Rede Social, Millenium: Os Homens que não Amavam as Mulheres' Fincher... 


A     L     I     E     N     3
o Diretor...


* O diretor David Fincher no Set de Alien 3. *




 " Novamente, não queríamos um diretor que tivesse grande experiência, mas que, em nossa opinião, se tornaria um grande diretor no futuro. "
do produtor Gordon Carroll, sobre o diretor David Fincher



 Ainda que a crítica da época tenha-lhe creditado grande parte do aparente fracasso de Alien 3 ( tal qual técnicos de futebol: a 'culpa' duma campanha vexatória é, usualmente, atribuída a eles ) David Fincher teve o enorme mérito de salvar o projeto 'Alien III' dos, inevitáveis, caos e ruína...

 Uma vez que a recepção ( quase global ) do roteiro final, de Giler e Hill, era que tratava-se duma 'bomba', coube a Fincher revisar, reescrever ( em princípio acessorado pelo escritor Rex Pickett, autor do romance Sideways, que, no curso da já consagrada 'Maldição de Alien 3', foi demitido por Hill e Giler ) e dirigir o filme... Fincher foi o responsável pela 'Ripley careca' ( que fez Weaver 'apaixonar-se' por ele ) e pela transição dos cenários ( praticamente prontos! ) do conceito de Ward ( do planetóide de madeira ) para o conceito do 'Planeta Prisão' Fury 161:







 À estética - suja e inoperante - do 'Planeta Prisão', Fincher acrescentou um elemento, no mínimo, genial: subdividir os tons predominantes do filme em Cinza, usualmente para takes externos... 




 ... e Sépia, para takes no labiríntico interior do complexo: 




 Não obstante à árdua ( e quase interminável! ) tarefa de reescrever o roteiro aproveitando Sets e estruturas, prontas e semiprontas, somou-se a hercúlea tarefa de fazê-lo sob incessante interferência criativa da Fox, com constantes adições ou supressões à trama... isso, sem contar, certamente, a pressão de ter que entregar um produto final à altura de Alien, de Ridley Scott, e Aliens, de James Cameron.
 Paralelamente ao caos, Michael Biehn soube ( por intermédio de seu agente ) que um modelo 'Fake' de seu personagem, o Cabo Hicks, fôra visto no Set de filmagens de Alien 3, com a cabeça despedaçada e um rombo no peito ( Nota 10: lembremo-nos que a personagem morre empalada por uma barra da estrutura da EEV ). Biehn concluiu que sua personagem fôra incumbada por um Cheastburster...! O ator - ainda magoado por não ter sido incluído no filme - ficou furioso e quiz processar a produção. Por fim, apenas pelo uso duma foto sua ( associada ao 'Fake' )...




 ... Biehn recebeu quase o mesmo - a título de direitos de uso de imagem e indenização - que recebeu por toda a sua participação em Aliens...!
 Em contrapartida, Fincher prosseguia com Alien 3 aos avanços e tropeços, que levaram-lhe a, no ritmo das constantes mudanças do roteiro, filmar sequências e mais sequências e, por diversas vezes, alternativas às sequências ( Nota 11: como veremos, essa é a principal razão pela qual o Dog Alien e as demais criaturas do filme são tão singulares - as constantes modificações no devir da trama ), afim do produto final alcançar o máximo em excelência e equilíbrio...
 Enquanto a maioria do filme foi rodado nos estúdios da Pinewood, algumas cenas foram filmadas na Usina de Força Blyth, em Northumberland ( Reino Unido ). Tratavam-se de sequências na superfície do planeta:




 Alien 3 foi ( finalmente...! ) concluído, com o 'DNA' de Fincher, numa versão longa e de impacto...

 ... que, entretanto, não escaparia à dita 'Maldição de Alien 3'...!



A     L     I     E     N     3
por David Fincher





 " Ninguém odiava aquilo mais do que eu, ainda hoje, ninguém odeia mais aquilo do que eu. "
do diretor David Fincher, sobre a 'versão Teatral' de Alien 3



    Originalmente, há um sismo entre a versão que David Fincher 'fechou' de Alien 3 ( a, como ficou conhecida, 'Assembler cut' ou 'versão do Diretor' ) e aquela - há época - mundialmente assistida. Isso porquê a Fox - sem o consentimento de Fincher - reeditou e remanufaturou Alien 3 naquela que tornar-se-ia a 'versão Teatral' do filme; o que levou-lhe a renegar Alien 3 completamente...

 Uma das primeiras diferenças entre ambas as versões está, precisamente, na chegada de Ripley ao planeta Fury 161: enquanto na 'versão Teatral' ela é encontrada e resgatada na EEV pelos prisioneiros do 'Planeta Prisão...








 ... na 'versão do Diretor', após o choque com o 'mar', o corpo desacordado de Ripley surge - coberto de óleo e piolhos - na praia, de onde é resgatado pelo Dr. Clemens...








 ... saiba-se: o 'corpo' todo sujo de Ripley não é a atriz Sigourney Weaver (!), e sim um 'Fake' da atriz. Ripley é resgatada, e a EEV puxada até a praia por um conjunto de bois:






 Outra diferença entre ambos os 'cortes' está no hospedeiro original da criatura: enquanto na 'versão Teatral', de 1992, o Alien irrompe de um cão ( daí inclusive ser evocado por 'Dog Alien' )...


















 ... na 'versão do Diretor', a criatura surge de um boi morto...









 ... e recolhido ao abatedouro, pouco após 'tombar misteriosamente' Woodruff produziu o efeito valendo-se de um 'Fake' de boi e de sangue e vísceras genuínas, que eram-lhe abastecidas e reabastecidas diariamente dum matadouro local. Na faixa dos comentários de Alien 3, ele mencionou que o cheiro do Set tornou-se, praticamente, 'irrespirável'...!
 Nesta sequência em particular, saiba-se que há uma sub-diferença em sua confecção: numa primeira iniciativa, Fincher apostou que o 'Bambi' ( como ficou conhecida a versão juvenil do Ox Alien/Alien Boi - em referência à animação clássica da Disney, de 1942. Fincher queria que a jovem criatura expressasse fragilidade, paradoxalmente a seu nascimento violento ) seria mais crível - mais natural em seus movimentos - se fosse 'interpretado' por um cão ( da raça Whippet ) fantasiado de Alien:





 Afinal, o cão seria filmado brevemente, por trás e na obscuridade...! O primeiro problema foi que o cão recusava-se a usar a cabeça Alien completa, tendo, a equipe de criação da Amalgamated Dynamics ( Nota 12: a Amalgamated Dynamics - ou A.D. - é a empresa responsável pelos efeitos especiais de Alien 3. Falarei mais sobre adiante ) de cortá-la e adaptá-la ao focinho do animal:




 O resultado do take, entretanto, não apenas desapontou - ficou cômico! A equipe optou então por uma solução mais tradicional: um modelo animatrônico e operado por 'fantocheiros'...







 ... para close-ups, combinado a um modelo em escala, articulado e movimentado sobre bluescreen ( em português: 'tela azul'. É a 'Idade Média' do atual chroma key: um objeto era filmado a frente dum fundo azul e então sua imagem era capturada e depois inserida numa cena ou sequência de filme ) por 'fantocheiros'...




 ... para a sequência de sua fuga rápida. Sob a reedição da Fox, pouco do vislumbre do 'Bambi' original foi preservado. 
 Uma terceira diferença entre as versões é que, na 'versão do Diretor', o plano original de Ripley - de prender o Ox Alien em um compartimento inviolável ( usado para armazenar material tóxico ) - funciona! Mesmo em meio às explosões, chamas e caos, provocadas pela inadvertida icineração da 'quinitricetilina'...







 ... o Ox Alien é acoado pelas chamas; sendo, subsequentemente, atraído para a armadilha pelo prisioneiro 'Jr' ( aquele que tem uma tatuagem sob o olho esquerdo na forma duma lágrima negra, interpretado pelo americano Holt McCallany ) que, num ato de redenção ( 'Jr' foi o líder do grupo de detentos que tentou estuprar Ripley ), sacrifica-se ao apetite voraz da criatura...






 ... enquanto Ripley sela a única entrada do depósito-cofre:




 A segurança de Fury 161 duraria pouco: Golic ( Paul McGann ), um assassino em massa - pária entre os próprios detentos - em crescente demência desde seu primeiro contato com a criatura ( que chacinou dois companheiros seus ), vai até o depósito, assassina seu vigia e liberta o Ox Alien:








 Certamente, Golic paga essa ação com a própria vida...!
 A última diferença entre as versões está no desenvolvimento da 'Sequência do Suicídio de Ripley': na 'versão Teatral', Ripley deixa-se cair nas chamas dos fornos de Fury 161...





 ... quando, num trecho de impacto, o Alien Queen Cheastburster ( falarei mais sobre no momento oportuno ) irrompe - violentamente! - de seu tórax... 




 ... e, com seu último 'sopro de vida', ela retem-no junto ao peito moribundo...





 ... num gesto de forte e dúbio apelo: o dever de conter a 'besta suprema' e a doçura ( quase materna ) com a qual uma mãe sustêm um filho ao peito ( Nota 12: cabe salientar-se que Ripley perdeu sua filha - conforme mensurado antes - na transição de Alien, de 1979, para Aliens, de 1986, e perdeu Newt na transição de Aliens para Alien 3. Ademais, esse gesto simples traz consigo um dos mais potentes elementos do roteiro original de Vincent Ward: Ripley num dilema entre sua própria espiritualidade, dilacerada pela incubação alienígena, e a sua necessidade de destruir, em definitivo, o ancestral inimigo ). Por fim, ambas - fera e heroína - desaparecem nas chamas:





 Ainda que contra o desejo de Fincher, esse 'corte' deu ao público a chance única de ver o Alien Queen Cheastburster, de fabrico da A.D.
 Na 'versão do Diretor' entretanto, Ripley cai incólume, com o aspecto pétreo e cônscio de uma legítima heroína ateniense, para então desintegrar-se nas chamas dos fornos:









A     L     I     E     N     3
.
B     I     S     H     O     P
o Andróide



 O mestre Stan Winston ( 1946-2008 ), responsável pelas criaturas de Aliens ( incluindo a Alien Queen ), foi procurado pela produção de Alien 3, mas não estava disponível...

 Winston indicou, entretanto, dois profissionais seus que, há pouco, haviam dissociado-se de sua empresa de efeitos especiais afim de fundarem uma própria, a Amalgamated Dynamics, Tom Woodruff Jr. e Alec Gills; hoje amplamente reconhecidos por seu trabalho em 'Percy Jackson e o Mar de Monstros' ( 2013 ), 'A Coisa' ( 2011 ), 'X-Men: Primeira Classe' ( idem ) e o 'Incrível Hulk' ( 2008 ) só para mencionar alguns.
 Enquanto a produção oscilava e mudava de mãos, ambos trabalhavam numa miríade de protótipos, modelos e idéias... Numa das mais consistentes, Woodruff optou por viabilizar - com a tecnologia mecânica e robótica da época - um desejo inviável desde Ridley Scott: criar um robô genuíno...! 
 Sabemos que, tanto o Ash de Ian Holm ( de Alien ) quanto o Bishop de Lance Henriksen ( de Aliens ) eram truques com protótipos inanimados e efeitos de maquiagem e edição... Para Alien 3, Woodruff somou um protótipo complexo, com um endoesqueleto mecanizado de boca, olhos, cílios e algumas micro-expressões móveis, a um molde - perfeito! - do rosto destroçado do ator:





 O 'Fake' ficou tão autêntico - tão real! - que a maioria dos expectadores do filme ( incluindo-me ) creram tratar-se do 'velho' Lance, sob pesada maquiagem!


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