" Eu era um grande crente da mudança de altura constante de Kong afim de ajustar-se às ilusões e configurações. Ele é diferente em quase todas as cenas; às vezes ele tem apenas 18 pés de altura e, por vezes, 60 pés ou maior. Isto quebrou todas as regras que O' Bie ( referindo-se a Willis O' Brien ) e seus animadores jamais haviam trabalhado, mas senti-me confiante que se as cenas ocorressem com emoção e beleza, o público aceitaria qualquer altura adequada à cena. Por exemplo, se Kong tinha apenas 18 pés de altura no topo do Empire State Building, ele teria perdido-se, como um pequeno inseto. Eu fazia malabarismos com as alturas das árvores e dezenas de outras coisas constantemente. A única coisa essencial era fazer o público encantar-se com a personagem de Kong para que eles não notassem ou se importassem se ele tinha dezoito ou quarenta pés de altura, contando apenas com todo o mistério, emoção e ação das cenas. "
Merian C. Cooper (1893-1973)
Originalmente, O' Brien, Harryhausen, Delgado e companhia, criaram os modelos e construíram os palcos e cenários para um Kong de, aproximadamente, 5.49 metros de altura ( 18 pés ) em seu habitat natural - Skull Island - com ligeira 'variação' para 7.31 metros de altura ( 24 pés ) em Nova Iorque...
Ao mesmo, alguns dos primeiros 'ensaios' para a aparência da criatura arriscaram um aspecto mais antropomórfico. Entretanto, Cooper e a produção do filme vetaram qualquer similaridade de Kong com um ser-humano, mui provavelmente afim de evitar que quaisquer ônus racista eventualmente pesasse sobre a película.
Foram criados quatro 'Kongs' para o filme: os dois primeiros eram articulados e foram confeccionados sobre um 'endo-esqueleto' de alumínio de 18 polegadas ( 45.72 centímetros ) com látex, espuma de borracha e pele de coelho ( Nota 12: durante as filmagens, descobriu-se que a 'pele' de borracha dos 'Kongs' secava sob a luz intensa dos estúdios, rasgando-se; sendo necessário sua constante substituição. Por conseguinte, era necessário refazer-lhes as feições e expressões com frequência ):
Esses dois 'Kongs' foram usados, essencialmente, para as sequências em Skull Island.
O terceiro Kong - produzido sob o mesmo know-how - era um pouco maior, de 24 polegadas ( 61 centímetros ) e foi especialmente projetado para os takes em Nova Iorque:
O quarto e último Kong foi projetado apenas para a sequência da queda do E.S.B., sendo o mais diminuto de todos e construído de pele e chumbo.
Ao mesmo, o aspecto geral dos 'Kongs' foi simplificado afim de atenuar-se as nádegas e barriga proeminentes, características dos gorilas reais.
Os lábios, narinas e sombrancelhas dos 'Kongs' eram feitos de borracha e seus olhos eram de vidro. Tudo era controlado por fios muito finos, embutidos em seus crânios de alumínio por pequenos orifícios, em mecanismos cuidadosamente elaborados afim de 'manobrar' suas expressões faciais.
Não obstante, Delgado e sua equipe elaboraram, projetaram e construíram um enorme busto de Kong...
... de madeira, borracha, tecido e peles de urso. No interior da enorme estrutura haviam três homens que operavam alavancas, compressores de ar e dobradiças, para controlar as expressões faciais da fera. As presas do 'Kong 1:1' mediam 10 polegadas ( 25 centímetros ) e seus globos oculares cerca de 12 polegadas ( 30.48 centímetros ) de diâmetro. A escala do Kong 1:1 era diferente de todos os puppets mencionados anteriormente e, devidamente equalizada ao todo, elevaria sua altura a 12.19 metros ( 40 pés ).
Também foram projetadas e construídas duas destras e uma perna mecanizadas para os close-ups do filme: a primeira destra foi montada sobre um guindaste e não era articulada, tendo sido projetada para a sequência em que Kong agarra Jack Driscoll/Bruce Cabot em sua caverna. A segunda era articulada e era operada por um sistema de alavancas...
... tendo sido projetada para todas as sequências em que Kong carregasse Ann Darrow/Fay Wray. Os braços mecanizados, por sua vez, foram criados e 'equalizados' para um gorila de 21.33 metros ( 70 pés ) de altura.
A perna gigante também foi montada sobre um guindaste e foi utilizada nas sequências em que Kong eventualmente pisoteasse suas vítimas.
John Cerasoli esculpiu, montou e criou todas as réplicas vistas no filme: barcos, aviões de guerra, trens e até mesmo réplicas em madeira das personagens principais de 'KK-33'.
Somada a todas as variações de tamanho inerentes à interação entre modelos, cenários e demais efeitos-especiais, Cooper acrescentou sua própria 'visão' de Kong ( como bem ilustrado em suas próprias palavras no texto que abre esta seção ) aumentando ainda mais a variabilidade em seu 'tamanho real'. Nesse sentido, observadas suas contínuas variações, pude estimar que a altura do 'RKO Kong' se situasse entre 18 e 24 metros ( 59 e 79 pés ) de altura...
... fazendo dele o maior 'espécime' de sua família americana ( Nota 13: isto é, desconsiderando o 'Toho Kong', do qual falarei em tempo ).
Ao contrário de Godzilla, cujo icônico urro foi produzido à partir da manipulação do som obtido das cordas de um contrabaixo, o urro de Kong foi produzido pelo engenheiro de som Murray Spivack ( 1903-1994 ) misturando urros de leões e tigres do zoológico e reproduzindo-os lentamente de trás para diante.
R E C E P Ç Ã O & L E G A D O
New York World-Telegram ( 1933 )
King Kong fez sua estréia mundial oficial em 23 de março de 1933 ( não a toa os mesmos dia e mês em que publiquei aqui o teaser para esta matéria ) no Teatro Chinês de Grauman, em Hollywood...
No átrio do teatro, foi exposto um busto gigante de Kong, e sua 'avant-premiere' foi precedida por um espetáculo que incluía ( dentre outros eventos ) um show de dança realizado por um grupo de dançarinos afro-americanos.
King Kong foi um sucesso de bilheteria, tendo feito $ 2.000.000 de dólares em seu lançamento (!) com seu primeiro final de semana estimado em $ 90.000 dólares!! Durante sua primeira turnê, o filme teve um lucro líquido de $ 650.000 dólares! King Kong foi relançado em 1938, 1942, 1946, 1952 e 1956. Após seu relançamento em 1952, a revista Variety estimou que ele alcançara $ 4.000.000 no acumulado de sua audiência até ali!!
King Kong também foi predominantemente bem avaliado pela crítica especializada, tanto de seu tempo quanto nos dias atuais. O filme recebeu avaliações positivas da Variety, do New York Times, do New York-Telegram ( que abre esta seção ) e do Chicago Tribune! Em 2002, o finado crítico Roger Ebert ( 1942-2013 ) observou que, ainda que os efeitos-especiais fossem obsoletos para os padrões modernos, eles 'ainda funcionam de alguma forma.' Em 2012, King Kong adquiriu uma pontuação '100% Fresh' no site agregador Rotten Tomatoes ( Nota 14: com base em 52 comentários ) à qual mantêm até hoje.
Paralelamente, o enorme êxito comercial ( combinado ao indefectível ônus cultural que angariou ao longo do tempo ) tornaram a personagem um alvo de longínquas disputas judiciais por seus direitos... Licenças foram cedidas e revogadas, causas foram ganhas e perdidas... e, enquanto Cooper e a RKO ( dentre outros estúdios ) lutavam nos canais competentes, King Kong ressurgia ( 29 anos depois de escalar o I.E. ) em um lugar diferente...
Literalmente 'do outro lado do mundo'...!! Só que, desta vez, bem maior...!
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