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S O B A L U Z D A C I Ê N C I A
S O B A L U Z D A C I Ê N C I A
"(referindo-se ao Facehugger, em Alien 1979) tem o... curioso hábito de... trocar as células e substituí-las por silício polarizado¹"
Dr. Ash (Ian Holm)
Talvez não haja definição mais apropriada para a criatura Alien do que a referência científica que angariou em Aliens (1986): 'Xenomorph'...
O nome vem do grego: 'xenos' (ξενος,) - 'estranho' ou 'estrangeiro' e 'morph' (μορφή) - forma. Isto é: 'Forma Estranha'.
Quando buscamos evidências de vida extraterrestre, geralmente temos dois objetivos: 1) encontrar água; 2) encontrar matéria orgânica. Se você se lembra das aulas de química, sabe que moléculas orgânicas são aquelas que têm como base o carbono (C) que se liga aos demais elementos para formar tudo aquilo que chamamos de vida - ao menos em nosso planeta.
O silício (Si) seria um ótimo candidato a parceiro do carbono para abrigar a vida¹: também é capaz de fazer 4 ligações atômicas e formar longas cadeias, além de ser o segundo elemento mais comum na crosta terrestre. Ainda assim, na Terra, o silício fica de um lado e a vida do outro: não existe um único ser vivo por aqui que consiga incorporar o silício naturalmente, formando ligações carbono-silício...
Ao menos até recentemente...
Pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Universidade de Pasadena (Califórnia) conseguiram, pela primeira vez, fazer com que células vivas criassem a conexão entre o carbono e o silício, usando apenas os princípios de Darwin: evolução acelerada em laboratório. Os cientistas selecionaram uma espécie de bactéria que vive em fontes termais da Islândia. O citocromo C, uma proteína que fica dentro das mitocôndrias, foi a escolhida para tentar alcançar o feito de unir naturalmente o silício e o carbono. Eles criaram diversas mutações para o DNA que codifica essa proteína. Aí, escolheram as que pareciam mais adequadas e foram refazendo essa seleção artificial até chegar na proteína desejada: “É como cruzar cavalos de corrida”, explicou Francis Arnold, chefe do laboratório responsável pela pesquisa. “Você precisa reconhecer a habilidade inerente do cavalo e extraí-la à cada geração. Estamos fazendo isso com proteínas”. Demorou apenas três 'rodadas' de cruzamentos entre as mutações mais favoráveis para que as enzimas estivessem criando as ligações silício-carbono; e com 15 vezes mais eficiência do que qualquer reação química feita antes em laboratório!
Ao menos até recentemente...
Pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Universidade de Pasadena (Califórnia) conseguiram, pela primeira vez, fazer com que células vivas criassem a conexão entre o carbono e o silício, usando apenas os princípios de Darwin: evolução acelerada em laboratório. Os cientistas selecionaram uma espécie de bactéria que vive em fontes termais da Islândia. O citocromo C, uma proteína que fica dentro das mitocôndrias, foi a escolhida para tentar alcançar o feito de unir naturalmente o silício e o carbono. Eles criaram diversas mutações para o DNA que codifica essa proteína. Aí, escolheram as que pareciam mais adequadas e foram refazendo essa seleção artificial até chegar na proteína desejada: “É como cruzar cavalos de corrida”, explicou Francis Arnold, chefe do laboratório responsável pela pesquisa. “Você precisa reconhecer a habilidade inerente do cavalo e extraí-la à cada geração. Estamos fazendo isso com proteínas”. Demorou apenas três 'rodadas' de cruzamentos entre as mutações mais favoráveis para que as enzimas estivessem criando as ligações silício-carbono; e com 15 vezes mais eficiência do que qualquer reação química feita antes em laboratório!
O estudo mostra que a natureza é capaz de se adaptar para incorporar silício em moléculas baseadas em carbono. E faz isso muito rápido: em células simples 'mutadas' em laboratório, levou só três gerações para acontecer – praticamente a velocidade da luz em termos evolutivos!
Só esse fato já aumenta muito as chances de que, em outro planeta e em outras condições, tenha surgido matéria orgânica com base em silício; como sugere o Dr. Ash ser o caso do Alien.
Entretanto, imaginar como seria o metabolismo de uma forma de vida de silício é um exercício bastante interessante: um dos primeiros problemas é que ela precisaria de um bom solvente: o silício não tem um solvente prontamente disponível!Um solvente é uma química que pode liberar nutrientes para as moléculas básicas, que podem levar os resíduos e que podem regular a temperatura. A vida baseada no carbono tem escolhido a água (H2O) para esta tarefa. A amônia é uma parente próxima da água e poderia atuar como um solvente em temperaturas mais baixas dos planetas gigantes cheios de gases e seus satélites. O silício e seus compostos, entretanto, não estão otimizados nem pela água e nem pela amônia.
"Eu nunca vi nada parecido com isso exceto em... ácido molecular²!"
Cap. Dallas (Tom Skerritt)
Uma boa opção de solvente, para uma forma de vida baseada em silício, seria o uso de um ácido²...
Rememoremos que foi o cartunista, artista, escritor, desenhista cinematográfico Ron Cobb quem sugeriu que o Alien tivesse um 'sangue ácido' que impediria a tripulação da Nostromo de destruí-lo por 'meios convencionais'.
O filme The Island of Terror (1966) apresentou os 'Silicates'...
... criaturas baseadas no átomo de silício que alimentavam-se dos ossos de outras criaturas, 'sugando-os' por meio de uma probóscide. É possível conceber-se que os 'Silicates' valiam-se de alguma espécie de ácido no sentido de dissolver os ossos de suas vítimas, liquefazê-los, e então sugá-los.
No seriado Star Trek (1966-1969) conhecemos a 'Horta'...
... (no episódio "The Devil in the Dark", datado de março de 1967) uma criatura à base de silício que excretava ácido.
Um solvente confiável para o silício seria o ácido fluorídrico (HF), tão reativo em sua forma iônica que pode corroer até o vidro. Este composto é usado para causticar ´circuitos nos chips de silício. Há, no entanto, um problema com esse tipo de 'solvente': o ácido fluorídico não é tão corrosivo quanto o ácido visto na franquia Alien! O ácido visto em Alien (1979) é capaz de corroer metal da mesma maneira que a acetona reagindo com o isopor (que foi como a sequência foi realmente produzida no filme).
Uma boa alternativa seria o ácido fluorantimônico (HSbF6)...
... o mais forte superácido conhecido!
Ele é obtido pela reação de pentafluoreto de antimônio (SbF5) com o fluoreto de hidrogênio (HF) em proporções diversas. Com uma proporção molar de 1 para 1, tem-se máxima acidez, podendo formar soluções de pH inferior a -24, sendo 2x1019 vezes mais ácido que o ácido sulfúrico!
Para dar uma ideia do que é -24, a água tem um pH 7 e ácido gástrico no nosso estômago tem uma pH1. Isto é: 100 bilhões de trilhões de vezes mais forte do que o ácido do estômago!!
Você não poderia segurar uma garrafa deste ácido, porque, depois de terminar com vidro, ele dissolveria suas mãos! O HSbF6 só pode ser armazenado em recipientes com revestimento de Teflon TM; nome comercial do Politetrafluoretileno - que é um polímero sintético.
"... já confirmei que ele possui uma camada externa de polissacarídeos protéicos³!"
Dr. Ash (Ian Holm)
De volta às palavras do Dr. Ash, um políssacarídeo³ (ou glicano) nada mais é que um polímero, só que natural (macromoléculas formadas a partir de unidades estruturais menores - os monômeros).
Nos organismos, os polissacarídeos são classificados em dois grupos dependendo da função biológica que cumprem: 1) Os polissacarídeos de reserva energética: a molécula provedora de energia para os seres vivos é principalmente a glicose (monossacarídeo). Quando esta não participa do metabolismo energético, é armazenada na forma de um polissacarídeo que nas plantas é conhecido como amido, nos animais e nos fungos como glicogênio; e 2) Os polissacarídeos estruturais: estes carboidratos participam na formação de estruturas orgânicas, estando entre os mais importantes a celulose (que participa na estrutura de sustentação dos vegetais).
Ainda que a descrição de Ash seja generalista e imprecisa, pode-se tangenciar que a estrutura dos Aliens possua algo semelhante ao teflon (Saiba-se que, na HQ Aliens, publicada no Brasil pela Abril Jovem em 1990, a personagem Newt descreve o Alien como tendo "ácido em lugar de sangue e pele dura como o aço inox.") que possa dar suporte a um mecanismo de defesa tão formidável...
... ainda mais se concebermos que o Xenomorph/Alien não seja um 'ser natural' - o que nos leva ao próximo passo neste particular exercício.
Outro problema em conceber-se uma forma de vida baseada em silício é que as moléculas de silício não parecem ser comuns no espaço. Se o silício fosse a base da vida em outra parte da galáxia seríamos capazes de encontrar evidências dele nos escombros que caem na Terra do espaço exterior. Além disso, veríamos evidências espectroscópicas de silício na atmosfera dos planetas no nosso sistema solar, e nas nuvens interestelares fora da galáxia Via Láctea. Contudo, não importa para onde estejamos olhando, não existem evidências de compostos de silício.
Isso por si só poderia reforçar a tese que o Alien não é uma criatura natural do Universo, mas sim uma criatura projetada por alguém (ou alguma coisa) talvez como arma biológica!
O que nos levaria a um dos mais interessantes traços dessa criatura: sua habilidade de obliterar certas características de seu hospedeiro quando em estágio embrionário!
O que nos levaria a um dos mais interessantes traços dessa criatura: sua habilidade de obliterar certas características de seu hospedeiro quando em estágio embrionário!
Segundo a franquia, o Alien pode ser bípede ou até quadrúpede (características estruturais e esqueléticas totalmente distintas) isso porquê apreende traços de seu hospedeiro enquanto o 'devora'. Esse mecanismo não é desconhecido da Natureza, mas sim uma evolução: parasitas como o 'nemátodes' conseguem capturar proteínas do hospedeiro afim de 'confundir' seu sistema imunológico. O Cheastbuster capturar genes de seu hospedeiro pode ser entendido como uma evolução desse mecanismo, o que faz todo sentido biológico porquê, além de introduzir a 'variabilidade genética' necessária à progressão da espécie (algo usualmente obtido pela reprodução sexuada) torna-o apto a adaptar-se a praticamente qualquer ambiente nonde for introduzido.
Um último ponto acerca da inviabilidade das formas de vida baseadas em silício seria que seu metabolismo não seria eficiente. O metabolismo da vida terrestre normal depende das trocas de oxigênio/dióxido de carbono. As Criaturas de silício não seriam capazes de aproveitar oxigênio para esta tarefa. O equivalente em criaturas de silício ao dióxido de carbono seria o dióxido de silício (o principal componente do vidro). Inalar e exalar vidro soa muito desagradável; contudo, cabe observar que o oxigênio, quando primeiramente apareceu na Terra, era igualmente ruim. Convertemos oxigênio ao nível molecular em dióxido de carbono para energia rápida, prontamente acessível. Entretanto, existe um preço a ser pago pelo uso do oxigênio deste modo: o oxigênio é venenoso! Ele enferruja metais, torna a manteiga rançosa, transforma o vinho em vinagre, e transforma nossos cérebros em 'mingau'. Estes efeitos negativos do oxigênio no corpo são as razões do porque as pessoas acrescentarem mais antioxidantes à sua dieta. Organismos terrestres tem evoluído uma complicada cadeia de enzimas que manipulam oxigênio cuidadosamente. Silício se parece muito com o oxigênio e por conseguinte o oxigênio não funciona como um estimulador de energia. Se não puderem usar oxigênio como uma fonte de energia, as criaturas de silício estarão restritas a uma existência um pouco inferior, vide os Silicates outrora mencionados, que eram - em suma - 'bactérias gigantes'.
Isso talvez explique a necessidade dos Aliens de susterem um ciclo de vida tão diversificado e parasitóide - evoluindo de formas mais simples para mais complexas à medida que 'drenam' particularidades de seus hospedeiros e crescem em escala evolucionária.
Mas é claro que, até onde sabemos, tudo não passa apenas de muita fantasia...
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