18º Ato/Post: Alien 1997-2017 Pág. VIII                                                                                                                                                                                                    
A  N  Á  L  I  S  E    A  D  I  C  I  O  N  A  L

*O diretor Ridley Scott no Set de Prometheus.*


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 "Eu gostei de Prometheus e achei que é um ótimo filme e que era ótimo que Ridley retornava à ficção-científica com entusiasmo, com grande desempenho tático, bela fotografia e ótimo 3D nativo."
James Cameron


 Afim de compreendermos melhor toda a mitologia e desdobramentos de Alien: Covenant (nossa próxima e última parada) é inevitável que, primeiramente, exploremos seu antecessor, Prometheus (de 2012), em toda a sua complexidade...

 Conforme observado no 3º Ato/Post: Alien/Prometheus - Recepção e Legado (novembro de 2012) ao contrário de Alien (1979) cuja história é "um argumento simples, concreto, de começo-meio-fim enxutos e assustadores", Prometheus é "um argumento complexo, repleto de tramas, subtramas e existencialismos", que tornam-no quase ininteligível em certa medida. E grande parte disso, deve-se ao fato que seu processo criativo foi o produto de mais de um único conjunto de idéias e linhas de raciocínio.
 Vamos recapitular: o escritor e produtor Jon Spaiths (de 'Passageiros', 'Dr. Estranho' e 'A Múmia', todos de 2017) escrevera um roteiro original para uma prequel de Alien em dezembro de 2009. Esse primeiro esboço foi o resultado da brainstorming entre ele e o diretor Ridley Scott. A primeira versão desse roteiro deu-se no natal desse mesmo ano...

 De dezembro a março de 2010, 'Alien Prequel' já estava em sua terceira versão!

 O roteiro do filme ainda seria revisto mais uma vez (em abril de 2010) até sua aprovação (em junho). Contudo, quando 'Alien Prequel' entrou em pré-produção, no mês de julho de 2010, Scott resolveu apresentar o texto ao roteirista Damon Lindelof (das telesséries Lost e Leftovers) que fez algumas sugestões pontuais ao devir da trama. Impressionado com as idéias de Lindelof, Scott convidou-lhe para ingressar no projeto e reescrever o original de Spaiths. Lindelof defendia a idéia que não haveria muita surpresa para o expectador do filme se 'Alien Prequel' simplesmente terminasse nonde Alien começava; isto é, com Kaine (John Hurt), Lambert (Veronica Cartwrite) e o Capitão Dallas (Tom Skerritt) encontrando a espaçonave alienígena sinistrada:




 "A verdadeira prequel" - defendeu Lindelof: "deve essencialmente preceder os eventos do filme original, mas sendo sobre algo completamente diferente, com personagens e recursos diferentes, com tema totalmente diferente, embora contida no mesmo universo."

 Para bem ou para mau, foi o que ele conseguiu...

 Em outubro de 2010 - cerca de três meses depois do início da pré-produção de 'Alien Prequel' - o roteiro do filme já estava em sua quinta revisão (!!) e já com Lindelof à bordo do projeto. O roteiro final do filme só ficaria pronto em março de 2011; ou seja: mais de dois anos depois de sua primeira versão!!



E  X  P  L  I  C  A  N  D  O    O    I  N  E  X  P  L  I  C  Á  V  E  L

P  E  T  E  R    W  E  Y  L  A  N  D
C O M P L E X O  D E  D E U S



 "Me pergunto: O que Deus gasta seu tempo fazendo? Eu vou e faço."
diálogo entre Peter Weyland e a Dra. Jocelyn Watts (renomeada para Elizabeth Shaw)


 Em face de tantas 'visões' (e revisões) o propósito original de certas passagens ou mesmo personagens foi, obviamente, 'deformado'. Consequentemente, suas motivações ocultas - ainda que concebíveis como naturalmente decorrentes do roteiro original de Prometheus ressurgiram (ainda que parcialmente) 'desconectadas' e/ou 'descontextualizadas' em Alien: Covenant...

 Talvez uma das idéias mais brilhantes do roteiro original de Prometheus - desperdiçada ao longo (do looongo...!) processo criativo do filme - fosse a verdadeira motivação de Peter Weyland, Ceo da Weyland-Yutani e interpretado pelo australiano Guy Pearce (de 'Homem de Ferro 3', de 2013)...






 ... para bancar a expedição da Prometheus ao planeta dos Engenheiros.

 Segundo o filme, Weyland (já em idade extremamente avançada e mantido vivo por meio da tecnologia da W-Y) afirmara-se "convencido" por Shaw que os Engenheiros, 'criadores da espécie humana', teriam o conhecimento necessário para reverter os efeitos do Tempo nele próprio...

 Em suma: que eles fariam-no imortal.

 Weyland fala sobre isso diretamente ao alienígena na sequência a seguir, que acabou suprimida do corte-final de Prometheus:


*'The Engineer Speaks: deleted and alternate Scene' ('O Engenheiro Fala: cena cortada e alternativa', em port.) - Prometheus 2012; 20th Century Fox.*


 Bem... tão importante quanto descobrir o motivo pelo qual o gigante arrancou a cabeça de David (além de reafirmar seu desprezo pela nossa espécie) é notar como Weyland compara-se com o alienígena na condição de 'deus', usando David como exemplo de criação: "Você vê esse homem?" - diz ele ao gigante, referindo-se a David: "Minha companhia o criou." Acrescentando mais a frente: "Somos deuses! E deuses não devem morrer."
 Esse 'complexo de Deus' de Peter Weyland - tornado ainda mais marcante na sequência inicial de Alien: Covenant - faz ainda mais sentido quando descobrimos sua verdadeira motivação (segundo o roteiro de 'Alien Prequel') para financiar a expedição da Prometheus: 'terraformar' Marte!!





 De fato, Weyland partiu numa exploração ao distante mundo de LV-224 em busca da tecnologia que os Engenheiros usaram para semear a vida em nosso mundo, com o objetivo de obliterá-la e usá-la em prol da W-Y. Esse argumento encontra eco - precisamente - em 'Aliens, O Resgate'! Lembremo-nos que, no ano de 2179 - quando a história de Aliens se passa - LV-426 tornou-se habitável graças ao 'Processador de Atmosfera', de fabrico da W-Y.:





 "Peça incrível da engenharia! É totalmente automatizado. É de fabricação nossa, sabia?"
Carter Burke (Paul Reiser)


 Assim, o objetivo de Peter Weyland era - originalmente - bem mais ambicioso do que, meramente, salvar a própria pele: ele queria patentear o poder dos deuses!!
 Nesse sentido, o nome com o qual a nave (e o filme) foi batizada, 'Prometheus', faz todo sentido: na mitologia grega, Prometeu foi um titã responsável por roubar o fogo de Héstia e dá-lo aos homens. Ou seja, ele nos deu a 'tecnologia divina' com a a qual edificamos nossa civilização! 


*Prometeu, por Heinrich F. Füger (1817).*


 Não a toa Weyland se visse como um deus...! E é correto supor-se que 'seu filho', David 8, herdasse essa mesma auto-imagem, que o levaria à realização das mais hediondas experiências na solidão do remoto planeta dos Engenheiros visto em Alien: Covenant:






 Não obstante, cabe pontuar que, ainda que a 'Sequência do Parto'... 




 ... tenha tenha sido suficientemente impactante para ter conquistado seu espaço próprio na mitologia da cinessérie Alien, o roteiro de 'Alien Prequel' previa um rumo totalmente diferente para história - não seria a Dra. Shaw a incubar e 'parir' a criatura alienígena (denominado 'Trilobite') mas sim o Dr. Holloway (Logan Marshall-Green)!! No roteiro, a criatura alienígena explodiria do peito dele - em plena transa com Shaw (!) - da mesma maneira que o Chestbuster fez com Kaine, em Alien:





 Outro elemento digno de nota é a 'mutação' de Fifield (Sean Harris) após ser encharcado pela substância negra. Na sequência, Fifield sofre deformações na cabeça e no rosto após ser atingido pelo líquido negro que, em 'A:C', soubemos ser um 'diabolicamente engenhoso patógeno' elaborado pelos Engenheiros.
 A mutação em Fifield foi obtida por meio de próteses e maquiagem aplicadas no rosto do ator:




 Contudo, o primeiro conceito de sua mutação, obtido por meio de próteses, maquiagem e CG, traz uma dimensão muito mais ampla da capacidade 'mutagênica' da substância! Neste conceito (eximido do corte-final de Prometheus) Fifield é apresentado como um ser infinitamente distinto do 'conceito oficial' do filme, tendo inclusive grandes semelhanças com o Alien clássico: 





 Essas semelhanças poderiam indicar certa elaboração e instrução - previamente 'programadas' no patógeno alienígena - para criar algo semelhante ao Xenomorph clássico. Isso também explicaria as semelhanças entre a criatura e o Deacon, bem como com seu 'descendente' mais direto: o Neomorph...





 Entretanto, como sabemos, esse aspecto de Fifield não foi 'canonizado' em Prometheus (Nota 22: esse, entre outros conceitos, foi excluído do filme por serem considerados 'inumanos demais'). 




D  E  A  C  O  N

O  P Á R I A



 Um dos últimos sismos de Prometheus (e, consequentemente, de Alien: Covenant) com o restante da cinessérie Alien dá-se na figura do Deacon, nome pelo qual foi batizada a derradeira criatura do filme (Nota 22: Deacon - ou 'Diácono' em português - foi um termo usado pelo próprio Ridley Scott para referir-se à criatura. Scott a apelidou assim dada a semelhança entre a longa e pontuda cabeça da criatura com uma mitra episcopal)...

 Há um longo debate (tornado ainda mais intenso depois de 'A:C') sobre se o Deacon seria ou não um 'ancestral' do Xenomorph clássico. Isso também se deve às constantes revisões que o roteiro de Prometheus sofreu. Tanto que a própria equipe de criação de Prometheus - chefiada pelo especialista em efeitos visuais e maquiador Neil Scanlan (ganhador do Oscar na categoria de efeitos visuais pelo filme 'Babe, o Porquinho Atrapalhado', de 1995) e pelo maquiador de efeitos efeitos-especiais Connor O' Sullivan (nomeado ao Oscar na categoria de maquiagem e penteados por 'Batman: O Cavaleiro das Trevas', de 2008) - ocasionalmente referiam-se à criatura como 'Ultramorph' ou 'Proto-Xenomorph', termos extraídos dos roteiros anteriores de Prometheus.
 Outro dado interessante nos conduz de volta ao Trilobite, aqui visto segundo a arte-conceitual do desenhista, artista-conceitual (além de colaborador tanto de Prometheus quanto de Alien: CovenantCarlos Huante:





 Recapitulando: Shaw consegue remover o Trilobite de seu corpo. A criatura cresce, desenvolve-se e torna-se gigantesca. Ela então ataca o Engenheiro, incubando-lhe com o Deacon
 Bem... numa das versões anteriores do roteiro de Prometheus, o Engenheiro era atacado por um Facehugger comum! A Fox, no entanto, pressionou Scott para remover totalmente o 'conceito Xenomorph' da trama de Prometheus - talvez temendo o estrago que o filme poderia causar à cinessérie canonizadaRememoremos que, naquela época, corria em paralelo com o projeto de Scott, uma iniciativa para um 'Alien V': tratava-se de uma 'requel' (expressão em inglês que combina as palavras 'reinicialização' com sequência) de 'Aliens, O Resgate' - que desprezaria Alien 3 e continuaria a história com Ripley, Hicks e 'Newt'. O filme seria dirigido por Neill Blomkamp (de 'Distrito 9', de 2009; Elysium, de 2013; e Chappie, de 2015). Entretanto, o sucesso comercial de Prometheus ($ 403.4 milhões de dólares) deu fôlego para Scott continuar seu projeto, o que 'sepultou' Alien V'...

 ... pelo menos, até agora...

 A intervenção da Fox foi uma das principais razões das diferenças estruturais do Deacon: ao contrário de seus 'pares' Xenomorphs, o Deacon já nasce 'maduro' (com braços e pernas!) não tendo que passar pelo estágio de Chestbuster (Nota 23: observa-se também essa característica nas criaturas de Alien Covenant: o 'A:C Warrior Alien' por exemplo, depois de irromper do peito da personagem Chris Oram...





 ... também já possuía braços e pernas).
 O Deacon vale-se de sua nuca pontuda como aríete para cortar e romper, afim de desgarrar-se de seu hospedeiro:




 Não obstante, ao invés de uma 'segunda boca' (uma característica inerente dos Alienso Deacon tem apenas uma segunda mandíbula superior; uma característica 'emprestada' do Tubarão Duende (Mitsukurina owstoni):




 Essa inspiração está em sintonia com a linha de criação de Scanlan e Sullivan, que buscou inspiração para as criaturas do filme principalmente na fauna marinha.
 Já a inspiração para o 'nascimento' do Deacon foi o nascimento de potros - a aparência iridescente da pele da criatura assemelha-se ao aspecto da placenta das éguas:





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