16º Ato (Post) THE FLY (The Brundlefly and The Martinfly)      
                                                                                                                                 
16º Ato ( Post )


Um filme da 20th Century Fox*...
*Referente aos filmes The Fly (no Brasil: 'A Mosca'; de 1986) e The Fly II (idem: 'A Mosca II'; de 1989) dos quais sustêm direitos.*


... Action Figures desenhadas, esculpidas e fabricadas pela McFarlane Toys**...
**Referente ao item 'McFarlane Movie Maniacs Series III: The Fly' (TCC: The Brundlefly).**


... e pela Sideshow Collectibles***...
***Referente ao item 'The Fly II: Martinfly Statue by Sideshow Collectibles'.***


... texto, pesquisa e desenvolvimento: The Hannibal lecter's**** Society...
****Hannibal 'The Cannibal' Lecter é uma personagem fictícia criada pelo dramaturgo Thomas Harris, cuja mais famosa interpretação coube ao ator Sir. Anthony Hopkins. A foto acima é da action nele inspirada, de fabrico da Neca Toys.****



A   P   R   E   S   E   N   T   A   M...





T H E   B R U N D L E F L Y   A N D   T H E   M A R T I N F L Y   


 " Não estava puro. O Teletransporte insiste em impureza. ( ... ) Uma mosca... entrou na cápsula transmissora comigo na primeira vez em que estive sozinho. O computador se confundiu. Não deveria haver dois padrões genéticos diferentes. Então ele decidiu uma fusão total. Ele nos uniu, eu e a mosca. A gente nem se conhecia direito. Meu teletransporte a transformou num gene de fusão. E um dos melhores. Agora não sou mais o Seth Brundle. Sou a criação de Brundle e a Mosca. "
Dr. Seth Brundle ( Jeff Goldblum em The Fly; 1986 ).


 É isso aí, meus interface-amigos e amigas, como disse no início do (#Link#) 15º Ato/Post ( referente à saga de King Kong ) no remoto mês de abril deste ano que encerra-se: 2016 seria 'um ano monstruoso para o Cinema...!!'

 Naquela altura, experimentávamos o 'sucesso' do controvertido 'Batman vs. Superman: A Origem da Justiça' ( que alcançou a bilheteria de $ 873.3 milhões de dólares, configurando-se - até aqui - como a 6ª Maior Bilheteria do Mundo em 2016 ) com Henry Cavill, Ben Affleck e Gal Gadot; ao mesmo que antecipávamos os sucessos de 'Rua Cloverfield 10' ( que faturou $ 108.3 milhões de dólares contra um custo de apenas $ 15 milhões ) com Mary E. Winstead e John Goodman; e 'Capitão América: Guerra Civil' ( a maior bilheteria do ano até esse ponto, com $ 1.153 bilhões de dólares mundialmente! ).
 Em uma viagem histórica, falamos sobre o 'macacão' a partir de sua origem, no ( como ficou conhecido ) 'RKO Kong', da película homônima de 1933; passando por sua gigantesca 'versão nipônica' ( também conhecida como 'Toho Kong' ); e suas refilmagens, a de 1976 ( TCC '76 Kong' ) e de 2005 ( TCC 'Century Kong' ); além de 'anteciparmos' ( com certa assertividade, diga-se ) sua 'mega-versão' de 2017 ( TCC 'Legendary Kong' )... 





 ... como pareceu confirmado pelo trailer de 'King Kong: A Ilha da Caveira': 


*King Kong: Skull Island ( 'King Kong: A Ilha da Caveira', no Brasil ) - 2017; Warner Bros. Pictures.*


 Falamos também da mais recente 'encarnação do Rei dos Monstros': Shin Gojira ( idem, 2016 ) de volta à 'terra mater' depois de 12 anos de ausência...! 'Requentando' o argumento original de 1954 ( devidamente adequado ao Japão contemporâneo ) num roteiro 'enxuto' e, de quebra, reinventando a criatura em uma versão ainda mais monstruosa que a da criatura clássica, tanto no aspecto quanto em sua estatura: o 'ShinGoji' mede 118.5 metros de altura ( 388.8 pés ) ou seja, dez metros mais alto que seu predecessor yankee ( de 2014 )...





 ... assim configurando-se como o maior expoente da 'família Goji' até o momento. A película foi muito bem recebida no Japão, faturando um total de $ 77.9 milhões de dólares, além de atrair a atenção de dois grandes fabricantes de actions do mercado: a Bandai, dona da prestigiada S.H. Monsterarts...




 ... e a Neca Toys





 Um deles irá para minha coelção, certamente!

 E, ante a estréia de Rogue One: A Star Wars History...


*Rogue One: A Star Wars History ( 'Rogue One: Uma História Star Wars', no Brasil ) - 2016; Walt Disney Studios Motion Pictures.*


 ... a aguardada prequel ( e spin-off ) ao canônico 'Episódio IV: Uma Nova Esperança' ( de 1977 ) da consagrada trilogia, dirigido por Gareth 'Godzilla-2014' Edwards ( Nota 1: como sabemos Edwards decidiu-se por não voltar à direção de 'Godzilla 2', previsto para estrear em 2019. O posto permanece, até o momento, vago ), o The Hannibal lecter's Society encerra 2016 comemorando o 30º Aniversário de outro cânone do terror e da ficção-científica: 'A Mosca' ( no original: The Fly, de 1986 ) e o 27º Aniversário de sua sequência, 'A Mosca II' ( The Fly II, de 1989 ) respectivamente dirigidos pelo produtor, diretor, cineasta, roteirista, ator e escritor canadense David Cronenberg e pelo cineasta, maquiador e co-criador da Industrial Light & Magic, Chris Walas.
  Se por um lado The Fly mostra-se superior à sua sequência na mais vasta gama de aspectos - do filme em si ( Nota 2: além de um Oscar e três Saturn Awards, o Chicago Films Critic Association elegeu-o como o 32º Filme Mais Assustador de Todos os Tempos! ) até seu diretor, responsável por filmes icônicos como 'Scanners, sua mente pode destruir' ( de 1981 )...





 ... 'Videodrome - A Síndrome do Vídeo' ( 1983 )...




 ... e 'Gêmeos, mórbida semelhança' ( 1988 )...




 ... passando pela possante trilha sonora do compositor canadense Howard Shore ( ganhador de três Oscars, dois Golden Globes e quatro Grammy Awards ) - a Chris Wallas coube o mérito ( inegável, sem dúvida ) da criação dos efeitos-especiais e de maquiagem de ambos os filmes, além do desenho e criação de ambas as indescritíveis criaturas, respectivamente a 'Brundlefly' ( também conhecida como 'Space Bug' ) de 'A Mosca'...




 ... e a 'Martinfly' de 'A Mosca II':




  Dois monstros cuja singularidade e complexidade talvez só encontrem equivalência nos icônicos 'Hound from Hell', de 'Um Lobisomem Americano em Londres' ( de 1981 )...




 ... ou na 'Alien Queen', de 'Aliens, O Resgate' ( de 1986 ): 




 Ademais, falamos de conceitos tornados tão célebres que ecoam desde fins dos anos 80 até os dias de hoje, em criaturas como o 'Ant-Man' de 'Matinee - Uma Sessão Muito Louca' ( de 1993 )...




 ... ou o 'Judas Breed', de 'Mutação' ( 1997 )...




 ... ou o 'Quentim', de 'A Maldição da Aranha' ( 2001 )...




 ... ou como o 'Mansquito' de Mosquito Man ( de 2005 ):




 Cabe-me pontuar ainda que a 'Martinfly'  foi o primeiro protótipo de minha iniciativa da criação de actions exclusivas...







 ... que resultou em minha atual e conhecida parceria com o Mestre, artesão e customizador, Léo Customs:




 Façamos então nossa ( já tornada ) tradicional viagem, no Espaço e no Tempo, até o remoto ano de 1957, afim de encontrarmos o escritor e jornalista britânico George Langelaan ( 1908-1972 ) e um de seus maiores clássicos de ficção-científica ( Nota 3: incluso na coletânea de contos do autor 'Out of Time', de 1964 )...

 ... diretamente das páginas da revista Playboy...

Pág. I

16º Ato (Post) THE FLY (The Brundlefly and The Martinfly) Pág. II       
                                                                                                                     

A   O R I G E M  



 " Até que eu esteja totalmente extinta, nada me fará esquecer aquela terrível cabeça branca e peluda com seu crânio rebaixado e achatado e suas orelhas pontudas. Seu nariz, róseo e úmido, era de um gato - um gato enorme. Mas seus olhos! Ou melhor, onde seus olhos deveriam estar, eram dois discos marrons do tamanho de pires. Em vez de uma boca, animal ou humana, havia uma fenda vertical, longa e peluda, da qual pendia uma tromba negra, que ampliava-se no fim numa trombeta, da qual gotejava saliva. "
Langelann, George: The Fly. 1957. Tradução e Adaptação por 'Doc Hanni' ( MN )



 A fábula de Langelaan é, ao mesmo, genial e perturbadora...

 No original, publicado em junho de 1957, a personagem François Delambre é acordada, tarde da noite, com um telefonema de sua cunhada, Helene. Ela informa-lhe que acabara de assassinar seu irmão, André, e que ele deveria contatar a polícia. Ao chegarem a cena do crime - uma fábrica da família Delambre - François e a polícia encontram o corpo de André sob uma prensa hidráulica, com a cabeça e o braço indizivelmente macerados! Helene entrega-se e, parecendo surpreendentemente calma, narra com minúcias os detalhes do crime - como de fato somente o assassino poderia fazê-lo.

 Ela deixa, no entanto, apenas um 'detalhe' sem explicação: sua motivação.

 Ante a 'frieza' da ex-esposa e a crueldade com que parecia ter executado o cônjuge, Helene é recolhida a um sanatório, enquanto a custódia do filho do casal, Henri, vai para François.
 François visita Helene com regularidade, mas sem obter dela a reposta à mais importante das indagações: a razão pela qual ela assassinara André Delambre. Certo dia, Helene surpreende François com uma pergunta aparentemente despropositada: quanto tempo viveria uma mosca? Na mesma data, Henri conta a François que vira a estranha mosca que sua mãe pedira-lhe para procurar: uma mosca com a cabeça branca.
Cônscio que essa poderia ser a chave para a cadeia de eventos que culminara com a morte de seu irmão, François usa a história da criança como isca para pegar Helene. De fato, ao saber que o filho vira o singular inseto, Helene transfigura-se, saindo da aparente apatia para a histeria. François ameaça-lhe então: se ela não contasse toda a verdade sobre a morte de seu irmão, ele iria a polícia contar tudo o que sabia sobre a 'mosca com a cabeça branca'. Helene então pede que ele volte no dia seguinte, quando ela entrega-lhe um relato manuscrito...

 Ela suicida-se mais tarde, naquele mesmo dia.

 O relato de Helene é inacreditável: no manuscrito, ela narra com detalhes as experiências do marido, André Delambre, com um par de equipamentos denominados 'disintegrator-reintegrators' ( em port.: 'desintegradores-reintegradores' ) capazes de 'transmitir' matéria de um ponto a outro do espaço, sendo uma máquina o 'desintegrador-transmissor' e a outra o 'receptor-reintegrador'.

 Êita troço 'piçado' aquele...!

 Foram necessários numerosos infortúnios até fazê-los funcionar corretamente: numa experiência, André reintegrou um cinzeiro com a frase 'made in Japan' escrita ao contrário ( Nota 4: esse argumento foi preservado na adaptação do conto para o cinema. Não obstante, o remake de 1986 também o evocou com ressalvas: Seth Brundle tenta teletransportar um babuíno com um resultado catastrófico! Quando inquerido por Veronica Quaife, Seth explica-lhe o ocorrido dizendo: 'Acho que virou o babuíno do lado avesso.' ). Em outra experiência, André tem sucesso ao desintegrar o gato da família, mas não consegue rematerializá-lo ( Nota 5: esse argumento também é preservado na adaptação de 1958 e evocado no remake de 1986, numa cutscene conhecida como 'Sequência do Macaco-Gato', conforme veremos em tempo ).
 André persistiu e, após conseguir ( aparentemente ) aperfeiçoar seu engenho, ousou tentar usá-lo em si mesmo... com terríveis consequências...!! Desapercebidamente, uma mosca doméstica entrou com ele na cápsula transmissora e, ao reintegrarem-se, André e a mosca haviam trocado entre si as cabeças e um de seus braços...!
 André passou então a cobrir sua cabeça com um saco e a manter sua mão/garra no bolso - afim de não assustar Helene. 'Conversando' com ela somente através de mensagens escritas, ele pede-lhe que busque pela casa uma 'mosca com a cabeça branca' - de fato, a sua cabeça - na esperança de tentar repetir a experiência e reverter o processo.

 Helene busca pelo bizarro inseto por toda a casa, mas sem sucesso...! 

 Sem muitas esperanças, Helene convence André a repetir a experiência sem a mosca da cabeça branca, na expectativa que - por caminhos misteriosos - algo reverta-se. Ante a insistência da esposa, André cede, desmaterializando-se e rematerializando-se novamente. Afoita, Helene vai até ele retirando-lhe o capuz...

 ... então confrontando o indizível...!!

 Não apenas a cabeça e o braço da mosca ainda permaneciam em André, como também ele 'assimilara' partículas do gato da família ( desmaterializado nas primeiras experiências ) tornando seu rosto num disforme e horrendo mosaico ( Nota 6: esse foi outro argumento preservado na adaptação de 1958, o que explica os estranhos 'bigodes' que o 'Andréfly' possui...




 ... quando seu rosto é revelado por Helene, personagem da canadense Patrícia Owens ).
 Sabendo-se além de toda a redenção, André destrói todo o seu trabalho e pede a ajuda de sua esposa para suicidar-se entre as plataformas de uma prensa hidráulica, que pulverizaria suas partes mutantes.
 No dia seguinte, François convida o inspetor Charas - o encarregado da investigação - para vir a sua casa, nonde divide com ele o conteúdo do relato da finada Helene. Ambos decidem-se por destruí-lo. Não obstante, Charas mostra-se incrédulo ao relato, argumentando a François que Helene deveria estar mesmo louca. François, no entanto argumenta-lhe que, naquele mesmo dia, 'enterrara' uma mosca no túmulo de seu finado irmão...


 ... uma mosca que tinha a cabeça e um dos braços brancos...




 O conto tornou-se um cult rapidamente, atraindo a atenção do cineasta alemão Kurt Neumann ( 1908-1958 ) diretor de clássicos como 'Tarzan e a Mulher-Leopardo' ( 1946 ), 'Da Terra à Lua' ( 1950 ) e 'Kronos, o Monstro do Espaço' ( 1957 ), que o produziu e dirigiu.
 O roteiro foi adaptado a partir do conto de Langelaan pelo autor e diretor James Clavell ( 1924-1994 ) e contou com o legendário Vincent Price ( 1911-1993 ) no papel de François Delambre...




 ... David Hedison ( creditado como 'Al Hedison', o imortal Capitão Crane da telessérie 'Viagem ao Fundo do Mar'; de 1964 a 1968 ) no papel de André Delambre...





 ... além da já mencionada Patrícia Owens ( 1925-2000 ) e de Herbert Marshall ( 1890-1966 ) como o inspetor Charas.


'A   M O S C A   D A   C A B E Ç A   B R A N C A'*
(1958) 



 Clavell não deixou de inovar ( diria: aperfeiçoar ) o original de Langelaan, fazendo uma breve ( porém muito bem vinda ) alteração no curso da trama...

 Ao final da narrativa de Helene, quando dava-se por certo sua condenação perante a justiça, o filho do casal, Phillipe ( papel de Charles Herbert; 1948-2015 ) procura François ( Price ) informando-lhe que achara a 'mosca da cabeça branca': ela estava no jardim - presa à teia de uma aranha-marrom. François convence então o Inspetor Charas a acompanhá-lo até o jardim em busca da teia e da 'mosca da cabeça' branca presa a ela. Lá, eles encontram a teia e à monstruosidade a ela presa... 





 ... prestes a ser devorada e 'gritando', sob um eco ultrassônico, a frase 'Help-me' ( do ingl.: 'Socorram-me' )!

 Em um ato, misto de horror e desespero, Charas destrói a teia com uma enorme pedra. 

 François argumenta a Charas então que ele era "tão assassino quanto Helene", visto que "ela matara um homem com a cabeça de uma mosca e ele uma mosca com a cabeça de um homem."
 Assim, ambos arquitetam um ardil que inocenta Helene da acusação de homicídio.

 A sequência ( intitulada 'Help-me! Help-me' ) tornou-se tão icônica, que foi nomeada à lista das '100 Melhores Citações de Filmes' do American Film Institute ( A.F.I. ):


* 'The Help-me! Help-me Sequence' ( 'A Sequência do Socorram-me', em português ) - The Fly 1958; 20th Century Fox.*
CONTÉM CENAS FORTES!


'A   M O S C A   D A   C A B E Ç A   B R A N C A'*
(1958) 
R E C E P Ç Ã O   &   L E G A D O

* The Fly ( 'A Mosca da Cabeça Branca', no Brasil ) - 1958; 20th Century Fox.*


 'A Mosca da Cabeça Branca' foi um grande êxito comercial. Estima-se que o filme tenha faturado $ 1.7 milhões de dólares de bilheteria internacionalmente!

 O filme também foi um sucesso de crítica; The Fly ( 1958 ) sustêm atualmente o certificado de 'Fresh' por 95% dos agregadores/expectadores do Rotten Tomatoes! O filme também recebeu quatro estrelas ( de cinco ) pelo guia online Allmovie!!
 Na animação 'Hotel Transilvânia' ( de 2012 ) a personagem 'Flyman'...





 ... foi, explicitamente, inspirada no 'André-fly'.
A americana Funko ( há 18 anos no mercado ) sustêm em sua linha um item inspirada no 'André-fly'...




 ... que ainda é encontradiço ( no Brasil ) através do Mercado Livre.
 'A Mosca da Cabeça Branca' também inspirou duas sequências: The Return of The Fly ( 1958 )...




 ... exibido aqui no Brasil sob os títulos 'O Filho da Mosca' ou 'O Monstro dos Mil Olhos', com Price de volta ao papel de François Delambre; e The Curse of The Fly ( 1965 )...




 ... exibido sob o título 'A Maldição da Mosca' ( Nota 7: ambos pela Rede Globo de Televisão ). Os dois filmes ( produções menores, acrescente-se ) forneceram subsídios para 'A Mosca II' ( de 1989 ) conforme veremos em tempo.

 Pouco mais de duas décadas depois de The Fly ( 1958 ) o co-produtor Kip Ohman ( 1946-1987 ) aproximou-se do roteirista Charles Edward Pogue com a idéia de refilmar o clássico dirigido por Kurt Neumann...
 Era o pontapé inicial de uma cadeia de eventos que daria a David Cronemberg seu maior êxito comercial!

Pág. II

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A   C R I A Ç Ã O  



 Charles Edward Pogue ( de 'Coração de Dragão: Um Novo Começo', de 2000 e 'Kull, O Conquistador', de 1997 ) ainda não havia assistido 'A Mosca da Cabeça Branca' até ali...

 Após ser provocado por Kip Ohman ( de 'A Morte Pede Carona', de 1986 ) ele começou sua incursão por The Fly - a começar pelo original de Langelaan, passando para o filme de 58 a posteriori. Pogue interessou-se pelo projeto, contatando então o produtor Stuart Cornfeld ( da cinessérie Zoolander ) dividindo com ele suas primeiras idéias. Ambos procuraram então a Fox, que liberou um adiantamento para que Pogue escrevesse um primeiro tratamento para o roteiro. Em seu primeiro esboço, Pogue seguiu o raciocínio de Langelaan. Porém, posteriormente, ele e Cornfeld concordaram com uma mudança de abordagem na trama: eles decidiram que uma 'metamorfose' elaborada - gradual e sôfrega - causaria mais impacto ao produto final do que a solução instantânea de Langelaan. 
 Porém, o esboço causou tal impacto e aversão aos executivos da Fox que eles, imediatamente, retiraram-se do projeto.
 Cornfeld então deu início a uma negociação com a Fox, na qual acordou buscar recursos para o filme noutra fonte, cabendo à produtora a distribuição da futura película. Entrou em cena um produtor improvável: o ator, cantor, compositor, diretor e produtor Mel Brooks ( de 'O Jovem Frankenstein', de 1974 ). Cornfeld era um colaborador frequente de Brooks ( Nota 8: eles haviam produzido juntos 'O Homem Elefante', de 1980, dirigido por David Lynch e ganhador de três prêmios BAFTA ) além de seu amigo particular. 
 Depois de uma leve passagem do documentarista, escritor e diretor Walon Green ( de 'Queima de Arquivo', de 1996; Robocop II, de 1990; e 'Jogos de Guerra', de 1983 ) pelo roteiro, coube a Ploog um 'polimento' adicional a seu próprio roteiro. Paralelamente, Brooks e Cornfeld estavam a caça de um diretor adequado para o projeto. Cronenberg fôra a primeira escolha da dupla e, depois de uma recusa inicial ( Nota 9: ele estivera envolvido na adaptação para o cinema do conto, de 1966, 'Vendemos Memórias no Atacado' de Philip K. Dick, que resultaria no cult 'O Vingador do Futuro', de 1990, com Arnold Schwarzenegger. Contudo ele dissociaria-se do projeto, que coube a Paul Verhoeven, de Robocop ) ele topou fazer o projeto, contanto que pudesse reescrever o roteiro.  


p o r   E D W A R D   P O G U E  

* A 'Sequência do Macaco-Gato', uma das muitas contribuições de Pogue ao roteiro de The Fly ( 1986 ).*


 A despeito de ter reescrito maciçamente o roteiro original de 'A Mosca' Cronenberg fez questão de dividir os créditos do roteiro final do filme com Pogue, por entender que sua versão seria impossível sem a dele para servir-lhe de base... 

 Entrementes, o roteiro de Pogue tem grande influência do original de Langelaan, conforme veremos a seguir: Geoff e Barbara Powell são um casal feliz. Geoff é um cientista brilhante que trabalha no desenvolvimento da tecnologia do teletransporte. Ele, contudo, mantêm seus financiadores, Phillip DeWitt e Harry Chandler, em suspense sobre seu projeto. Geoff toca suas experiências com o teletransporte com vários resultados fracassados, sendo o mais pontual deles um macaco que, a exemplo do gato em Langelaan, desintegra-se mas sem reintegrar-se novamente...
 Após sucessivos testes, ele obtêm sucesso no teletransporte de objetos e coisas vivas. É quando ele decide-se testar o invento em si ( e todos sabemos o que acontece ): uma mosca entra com ele na cápsula transmissora e ambos são fundidos no nível genético-molecular.
 Em princípio, Geoff desenvolve incríveis força, resistência e habilidades. Mas quando estranhos pelos começam a surgir em suas costas ( note-se que esse - como outros elementos que sinalizei - prevaleceram no roteiro final ) ele descobre o ocorrido e deduz que seu corpo esta redefinindo-se para tornar-se um inseto gigantesco...!
 Geoff vai transformando-se gradativamente... perdendo partes do corpo enquanto adquiri traços da mosca, como a habilidade de escalar paredes e vomitar o 'vômito especial' ( parafraseando Seth Brundle ). Paralelamente, sua esposa, Bárbara, descobre que está grávida!
 Chandler e DeWitt, por sua vez, descobrem o teletransportador e, em um 'teste', desmaterializam um gatinho. Contudo, ao tentarem rematerializá-lo, ele ressurge 'amalgamado' com o macaco desaparecido durante as primeiras experiências de Geoff...

 ... uma terrível abominação denominada por 'Monkey-cat'.

 DeWitt espanca o monstro com uma barra de ferro até matá-lo. Note-se que esse conceito foi a base para a 'Monkey-cat Sequence' ( trad. ingl.: 'Sequência do Macaco-gato' ) na 'Versão do Diretor' de Cronenberg, que, contudo, acabou eximida do corte final de 'A Mosca'. Mas, falaremos sobre isso a seu tempo.
 A despeito do inominável fracasso, DeWitt vê o potencial daquela tecnologia e apossa-se do invento. Powell - agora tornado um inseto gigantesco e incapaz de falar - fica sabendo e então invade o prédio das empresas de DeWitt. 'Barbie' segue-o. Powell confronta DeWitt, matando-lhe e alimentando-se dele com o 'vômito especial'. Ele inicia um incêndio na laboratório, fechando-se em seguida dentro de um dos teletransportadores.

 'Barbie' chega a tempo de vê-lo e ao trabalho de sua vida sendo consumido pelas chamas...

 O filme encerraria-se com ela dando a luz a um verme gigantesco e, em seguida, ela veria que tudo não passara de um pesadelo: ela estaria segura em um hospital nonde dera a luz a um bebê saudável.
 Como visto, várias sequências do original de Pogue acabaram, de uma ou de outra maneira, no corte de The Fly. E, ainda que seu roteiro pudesse ser considerado 'irretocável' sob muitas perspectivas, não há nada que não pudesse melhorar...

 Ainda mais por um gênio do calibre de Cronenberg...!


p o r   D A V I D   C R O N E N B E R G  

* O diretor David Cronenberg e o temível 'Spacebug' ( 1986 ).*


 " Se você, ou seu amante, tem AIDS e forem assistir ao filme, é claro que verão a AIDS nele, mas você não ter que ter essa experiência para responder emocionalmente ao filme e eu acho que esse é realmente o poder dele. ( ... ) Para mim, porém, havia algo mais universal na história de 'A Mosca': envelhecimento e morte, algo com que todos nós temos que lidar. "
do ator, roteirista, escritor, diretor, cineasta e produtor David Cronenberg ( em 1986 )


  A contribuição mais significativa de Cronenberg ao roteiro de Plogue foi, indubitavelmente, inserir nele a concepção de ser, o processo de 'metamorfose' da personagem, uma espécie de doença degenerativa - como um câncer ( Nota 10: a personagem Seth Brundle faz várias menções a câncer ao longo da película, como quando ele aparece para Verônica Quaife - já deformado e doentio - e diz-lhe: 'Está parecendo uma estranha forma de câncer.' ou 'Eu não quero parecer mais um daqueles doentes, falando sem parar sobre o cabelo que está caindo e os nódulos linfáticos.' ) - algo tornado uma assinatura em parte de sua cinematografia...

 Certos aspectos do projeto de Pogue ( como a personagem perder partes do corpo ) foram estendidas e potencializadas com ingredientes como horror físico e a deformidade, terror psicológico, sexualidade e abjetismo ( Nota 11: as cenas de sexo entre Seth Brundle e Veronica Quaife ocorrem, por exemplo, no mesmo ambiente em que Seth realizava suas experiências e convivia com cobaias ).
 Cronenberg também susteve a 'humanidade' de sua personagem pelo maior tempo possível ( Nota 12: lembrando que a transformação total do Dr. Brundle em 'Brundlefly' deu-se apenas no final da película ) ao contrário do original de Plogue ( Nota 13: em Plogue, Geoff passa 2/3 do tempo incapacitado de falar ).
 Afora os nomes, Cronenberg 'fundiu' as personagens DeWitt e Chandler em um único 'ente', Stathis Borans, editor da Revista Particle e chefe de Verônica ( Nota 14: no roteiro de Plogue ambos, DeWitt e Chandler, tem intenções românticas com 'Barbie', o que acabou permanecendo em Borans com Verônica ). Outra mudança foi na concepção da 'metamorfose' de Powell para Brundle: no conceito de Pogue, Powell ia sendo progressivamente 'consumido' pela mosca ( suas células e 'configuração' humanas iam sendo substituídas pelas da mosca, transformando-o em um inseto gigante ) enquanto, no conceito de Cronenberg, a transformação de Brundle sustinha um certo 'hibridismo' ( ou, nas próprias palavras de Seth: 'Estou me tornando um Brundle-Mosca' ) o que explica o aspecto singular do 'Spacebug':





 Cronenberg também susteve, em sua versão, algumas passagens pontuais do roteiro de Pogue, como a sequência em que Brundle captura uma mosca em pleno voo ( Nota 15: que é o ponto de partida para que a personagem descubra seus 'poderes' ) e o momento onde ele descobre que suas unhas estão caindo ( Nota 16: evento que o leva a rever seu próprio teletransporte e sua eventual fusão com a mosca )...

 ... entre outras passagens ainda mais perturbadoras...!


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