16º Ato (Post) THE FLY (The Brundlefly and The Martinfly) Pág. III            
                                                                                                               

A   C R I A Ç Ã O  



 Charles Edward Pogue ( de 'Coração de Dragão: Um Novo Começo', de 2000 e 'Kull, O Conquistador', de 1997 ) ainda não havia assistido 'A Mosca da Cabeça Branca' até ali...

 Após ser provocado por Kip Ohman ( de 'A Morte Pede Carona', de 1986 ) ele começou sua incursão por The Fly - a começar pelo original de Langelaan, passando para o filme de 58 a posteriori. Pogue interessou-se pelo projeto, contatando então o produtor Stuart Cornfeld ( da cinessérie Zoolander ) dividindo com ele suas primeiras idéias. Ambos procuraram então a Fox, que liberou um adiantamento para que Pogue escrevesse um primeiro tratamento para o roteiro. Em seu primeiro esboço, Pogue seguiu o raciocínio de Langelaan. Porém, posteriormente, ele e Cornfeld concordaram com uma mudança de abordagem na trama: eles decidiram que uma 'metamorfose' elaborada - gradual e sôfrega - causaria mais impacto ao produto final do que a solução instantânea de Langelaan. 
 Porém, o esboço causou tal impacto e aversão aos executivos da Fox que eles, imediatamente, retiraram-se do projeto.
 Cornfeld então deu início a uma negociação com a Fox, na qual acordou buscar recursos para o filme noutra fonte, cabendo à produtora a distribuição da futura película. Entrou em cena um produtor improvável: o ator, cantor, compositor, diretor e produtor Mel Brooks ( de 'O Jovem Frankenstein', de 1974 ). Cornfeld era um colaborador frequente de Brooks ( Nota 8: eles haviam produzido juntos 'O Homem Elefante', de 1980, dirigido por David Lynch e ganhador de três prêmios BAFTA ) além de seu amigo particular. 
 Depois de uma leve passagem do documentarista, escritor e diretor Walon Green ( de 'Queima de Arquivo', de 1996; Robocop II, de 1990; e 'Jogos de Guerra', de 1983 ) pelo roteiro, coube a Ploog um 'polimento' adicional a seu próprio roteiro. Paralelamente, Brooks e Cornfeld estavam a caça de um diretor adequado para o projeto. Cronenberg fôra a primeira escolha da dupla e, depois de uma recusa inicial ( Nota 9: ele estivera envolvido na adaptação para o cinema do conto, de 1966, 'Vendemos Memórias no Atacado' de Philip K. Dick, que resultaria no cult 'O Vingador do Futuro', de 1990, com Arnold Schwarzenegger. Contudo ele dissociaria-se do projeto, que coube a Paul Verhoeven, de Robocop ) ele topou fazer o projeto, contanto que pudesse reescrever o roteiro.  


p o r   E D W A R D   P O G U E  

* A 'Sequência do Macaco-Gato', uma das muitas contribuições de Pogue ao roteiro de The Fly ( 1986 ).*


 A despeito de ter reescrito maciçamente o roteiro original de 'A Mosca' Cronenberg fez questão de dividir os créditos do roteiro final do filme com Pogue, por entender que sua versão seria impossível sem a dele para servir-lhe de base... 

 Entrementes, o roteiro de Pogue tem grande influência do original de Langelaan, conforme veremos a seguir: Geoff e Barbara Powell são um casal feliz. Geoff é um cientista brilhante que trabalha no desenvolvimento da tecnologia do teletransporte. Ele, contudo, mantêm seus financiadores, Phillip DeWitt e Harry Chandler, em suspense sobre seu projeto. Geoff toca suas experiências com o teletransporte com vários resultados fracassados, sendo o mais pontual deles um macaco que, a exemplo do gato em Langelaan, desintegra-se mas sem reintegrar-se novamente...
 Após sucessivos testes, ele obtêm sucesso no teletransporte de objetos e coisas vivas. É quando ele decide-se testar o invento em si ( e todos sabemos o que acontece ): uma mosca entra com ele na cápsula transmissora e ambos são fundidos no nível genético-molecular.
 Em princípio, Geoff desenvolve incríveis força, resistência e habilidades. Mas quando estranhos pelos começam a surgir em suas costas ( note-se que esse - como outros elementos que sinalizei - prevaleceram no roteiro final ) ele descobre o ocorrido e deduz que seu corpo esta redefinindo-se para tornar-se um inseto gigantesco...!
 Geoff vai transformando-se gradativamente... perdendo partes do corpo enquanto adquiri traços da mosca, como a habilidade de escalar paredes e vomitar o 'vômito especial' ( parafraseando Seth Brundle ). Paralelamente, sua esposa, Bárbara, descobre que está grávida!
 Chandler e DeWitt, por sua vez, descobrem o teletransportador e, em um 'teste', desmaterializam um gatinho. Contudo, ao tentarem rematerializá-lo, ele ressurge 'amalgamado' com o macaco desaparecido durante as primeiras experiências de Geoff...

 ... uma terrível abominação denominada por 'Monkey-cat'.

 DeWitt espanca o monstro com uma barra de ferro até matá-lo. Note-se que esse conceito foi a base para a 'Monkey-cat Sequence' ( trad. ingl.: 'Sequência do Macaco-gato' ) na 'Versão do Diretor' de Cronenberg, que, contudo, acabou eximida do corte final de 'A Mosca'. Mas, falaremos sobre isso a seu tempo.
 A despeito do inominável fracasso, DeWitt vê o potencial daquela tecnologia e apossa-se do invento. Powell - agora tornado um inseto gigantesco e incapaz de falar - fica sabendo e então invade o prédio das empresas de DeWitt. 'Barbie' segue-o. Powell confronta DeWitt, matando-lhe e alimentando-se dele com o 'vômito especial'. Ele inicia um incêndio na laboratório, fechando-se em seguida dentro de um dos teletransportadores.

 'Barbie' chega a tempo de vê-lo e ao trabalho de sua vida sendo consumido pelas chamas...

 O filme encerraria-se com ela dando a luz a um verme gigantesco e, em seguida, ela veria que tudo não passara de um pesadelo: ela estaria segura em um hospital nonde dera a luz a um bebê saudável.
 Como visto, várias sequências do original de Pogue acabaram, de uma ou de outra maneira, no corte de The Fly. E, ainda que seu roteiro pudesse ser considerado 'irretocável' sob muitas perspectivas, não há nada que não pudesse melhorar...

 Ainda mais por um gênio do calibre de Cronenberg...!


p o r   D A V I D   C R O N E N B E R G  

* O diretor David Cronenberg e o temível 'Spacebug' ( 1986 ).*


 " Se você, ou seu amante, tem AIDS e forem assistir ao filme, é claro que verão a AIDS nele, mas você não ter que ter essa experiência para responder emocionalmente ao filme e eu acho que esse é realmente o poder dele. ( ... ) Para mim, porém, havia algo mais universal na história de 'A Mosca': envelhecimento e morte, algo com que todos nós temos que lidar. "
do ator, roteirista, escritor, diretor, cineasta e produtor David Cronenberg ( em 1986 )


  A contribuição mais significativa de Cronenberg ao roteiro de Plogue foi, indubitavelmente, inserir nele a concepção de ser, o processo de 'metamorfose' da personagem, uma espécie de doença degenerativa - como um câncer ( Nota 10: a personagem Seth Brundle faz várias menções a câncer ao longo da película, como quando ele aparece para Verônica Quaife - já deformado e doentio - e diz-lhe: 'Está parecendo uma estranha forma de câncer.' ou 'Eu não quero parecer mais um daqueles doentes, falando sem parar sobre o cabelo que está caindo e os nódulos linfáticos.' ) - algo tornado uma assinatura em parte de sua cinematografia...

 Certos aspectos do projeto de Pogue ( como a personagem perder partes do corpo ) foram estendidas e potencializadas com ingredientes como horror físico e a deformidade, terror psicológico, sexualidade e abjetismo ( Nota 11: as cenas de sexo entre Seth Brundle e Veronica Quaife ocorrem, por exemplo, no mesmo ambiente em que Seth realizava suas experiências e convivia com cobaias ).
 Cronenberg também susteve a 'humanidade' de sua personagem pelo maior tempo possível ( Nota 12: lembrando que a transformação total do Dr. Brundle em 'Brundlefly' deu-se apenas no final da película ) ao contrário do original de Plogue ( Nota 13: em Plogue, Geoff passa 2/3 do tempo incapacitado de falar ).
 Afora os nomes, Cronenberg 'fundiu' as personagens DeWitt e Chandler em um único 'ente', Stathis Borans, editor da Revista Particle e chefe de Verônica ( Nota 14: no roteiro de Plogue ambos, DeWitt e Chandler, tem intenções românticas com 'Barbie', o que acabou permanecendo em Borans com Verônica ). Outra mudança foi na concepção da 'metamorfose' de Powell para Brundle: no conceito de Pogue, Powell ia sendo progressivamente 'consumido' pela mosca ( suas células e 'configuração' humanas iam sendo substituídas pelas da mosca, transformando-o em um inseto gigante ) enquanto, no conceito de Cronenberg, a transformação de Brundle sustinha um certo 'hibridismo' ( ou, nas próprias palavras de Seth: 'Estou me tornando um Brundle-Mosca' ) o que explica o aspecto singular do 'Spacebug':





 Cronenberg também susteve, em sua versão, algumas passagens pontuais do roteiro de Pogue, como a sequência em que Brundle captura uma mosca em pleno voo ( Nota 15: que é o ponto de partida para que a personagem descubra seus 'poderes' ) e o momento onde ele descobre que suas unhas estão caindo ( Nota 16: evento que o leva a rever seu próprio teletransporte e sua eventual fusão com a mosca )...

 ... entre outras passagens ainda mais perturbadoras...!


Pág. III

Nenhum comentário:

Postar um comentário